Texto do programa do diretor Guilherme Weber

O ser tem estados inumeráveis e cada vez mais perversos. Esta é a chave de Antonin Artaud, que sonhava, como Bataille, em transformar a violência num estilo, atingir este delicado grau de estilização.
O Nicky Silver que surgiu das pequenas salas do underground Nova Iorquino me aprece legítimo herdeiro desta corrente, mastigando Artaud, bataille, Sade junto com John Waters, Divine, Andy Warhol, Jackie Curtis e toda a fauna do Village e cuspindo sua escrita deliberadamente escandalosa, "camp" e sádica sobre espectadores e atores. Seus personagens de corações arruinados e línguas ferozes sabem muito bem a diferença entre travessura e subversão e conduzem a cena de forma a dilatar a neurose para buscar a perversão. Nesta jornada em busca delas, tive os melhores e mais divertidos parceiros Mariana Ximenes, Kiko Mascarenhas, Jonathan Haagensen, Stella Rabello e Miguel Thiré, obrigado por todos os momentos. Pelo infinito talento, confiança, entrega e coragem. Como meus heróis favoritos, vocês apagam fogo com gasolina.
A montagem deste espetáculo marca a volta aos palcos de Mariana Ximenes, cujo convite para uma parceria teatral me encheu de orgulho e alegria. Em 2002, junto com o diretor Felipe Hirsch, criei "Os Solitários", que reunia dois textos de Silver, "Pterodátilos"e "Homens Gordos de Saias", em uma produção de Marco Nanini e Marieta Severo, espetáculo que apresentou o autor ao Brasil. A idéia de voltar a mergulhar no universo corrosivo deste dramaturgo do pós absurdo era um desejo antigo. Mariana criou as condições para isto, estreando como produtora e fazendo da sua inquietação combustível. Atrizes interpretando atrizes sempre foram um grande fetiche de qualquer diretor. Dizia o mesmo Artaud,
"se você não puder livrar-se de si mesmo, deleita-se devorando-se"
Estrear como diretor vendo Mariana criar farsa, ironia e paródia sobre o seu ofício, provocando risos para castigar costumes é desde já ma das minhas memórias favoritas de tantas salas de ensaio. A ela dedico este espetáculo.

Guilherme Weber, Setembro de 2011